sábado, 7 de fevereiro de 2015

Olá, pessoal!

Fiquei fora do post da semana passada, mas hoje estou de volta com mais novidades do mundo da culinária e da gastronomia. Aliás, em que os dois termos se diferem? Quando devemos usar um e outro?

A culinária é aquela que se ocupa da preparação dos alimentos. É o que as pessoas fazem no dia-a-dia para se alimentarem, sem refinamento e combinações exóticas[1].

Já a gastronomia[2], apesar de ser um ramo da culinária (pois também se ocupa da preparação da comida), é ainda mais abrangente, pois se ocupa também do refinamento e apresentação dos pratos, das combinações, ou melhor dizendo, das harmonizações entre os pratos (entrada, principal e sobremesa) e as bebidas a serem servidas por cada um. Fala também da etiqueta envolvida para o serviço (como falamos no primeiro post, o da Tia Thereza).


Então a gastronomia é considerada uma ciência enquanto a culinária é considerada uma arte.

Já tivemos muitos autores que falavam arte culinária no começo do século XX (principalmente as autoras) e hoje falamos mais da gastronomia. Outros escreveram sobre a história da alimentação no Brasil, como o Câmara Cascudo, famoso folclorista potiguar, contemporâneo de Gilberto Freyre, autor este que ficou famoso por ter escrito “Casa Grande e Senzala”, mas que foi profícuo na escrita sobre o açúcar e seus doces.

No seu livro A história da Alimentação no Brasil[3]ele vai além e dedica um capítulo à Sociologia da Alimentação: “Nenhuma outra atividade será tão permanente na história humana.” E é pura verdade. Podemos fazer o que for, nunca deixaremos de comer. Na abertura do capítulo ele fala do ditado popular “Papagaio não comeu? Morreu!”. Afirma ainda que a arte rupestre é “fórmula propiciatória para a captura de alimento”, pois tudo o que está ali retratado tratava disso. Comemos, comemos e comemos.

Falamos de comida, nos referimos à comida no nosso cotidiano, usamos comida como insulto ou como termos de duplo sentido. O tempo todo.

O músico dá uma “canja” quando vai tocar uma música no show de outro; a canja também era falada na escola, quando um time era muito fácil de vencer (“é canja, é canja, é canja de galinha...”); damos uma “banana” para quem quer tirar proveito de nós ou ainda “banana” quando uma pessoa é meio boba, devagar ou aquele que cai “igual banana”; quando as coisas são fáceis, elas são “mamão com açúcar”; quando a pessoa é meio inexperiente ela é “café-com-leite”; as crianças brincavam (será que ainda brincam?) de “salada de frutas” (pera, uva, maçã, salada mista); quando a roupa está muito amarrotada, é um “maracujá-de-gaveta”; a mulher pode ser um “filé” (horrível isso!) e se temos uma marca de suor na camisa embaixo do braço, lá temos uma “pizza”; se formos falar de música, tinha que ter um blog só pra isso (Zeca Pagodinho é quem diz que nunca comeu “caviar” e que é mais “ovo frito e farofa com bacon”) e de filmes, outro blog.

Comida também é sinônimo de superstições. Câmara Cascudo também tem um capítulo só pra isso. Em geral os doentes, as crianças e as grávidas/lactantes são os alvos da superstição. Mulheres que amamentam tem que tomar “canjica” para ter muito leite; muitas grávidas são impedidas de cozinhar para que não estraguem a comida; os doentes ganham canja (de novo!) quando estão em convalescença; crianças tem que comer feijão e fígado (não eu) para ter ferro. E a manga e o leite, para sempre separados pelas crendices.



Enfim, comida é cultura de todas as formas. Poderíamos escrever (como já foram escritos), tratados e mais tratados sobre o assunto. Eu hoje fugi um pouquinho da proposta inicial do blog (os livros de receitas), mas o tema é tão vasto que sempre teremos assuntos pertinentes.
Semana que vem eu estou de volta, falando sobre patrimônio imaterial.
Acompanhe no Facebook algumas receitas do livro do Câmara Cascudo que eu colocarei por lá.

Abraços!





[3]Cascudo, Luiz da Câmara. História da Alimentação no Brasil. 2011. Ed. Global
Olá, pessoal!

Fiquei fora do post da semana passada, mas hoje estou de volta com mais novidades do mundo da culinária e da gastronomia. Aliás, em que os dois termos se diferem? Quando devemos usar um e outro?

A culinária é aquela que se ocupa da preparação dos alimentos. É o que as pessoas fazem no dia-a-dia para se alimentarem, sem refinamento e combinações exóticas[1].

Já a gastronomia[2], apesar de ser um ramo da culinária (pois também se ocupa da preparação da comida), é ainda mais abrangente, pois se ocupa também do refinamento e apresentação dos pratos, das combinações, ou melhor dizendo, das harmonizações entre os pratos (entrada, principal e sobremesa) e as bebidas a serem servidas por cada um. Fala também da etiqueta envolvida para o serviço (como falamos no primeiro post, o da Tia Thereza).


Então a gastronomia é considerada uma ciência enquanto a culinária é considerada uma arte.

Já tivemos muitos autores que falavam arte culinária no começo do século XX (principalmente as autoras) e hoje falamos mais da gastronomia. Outros escreveram sobre a história da alimentação no Brasil, como o Câmara Cascudo, famoso folclorista potiguar, contemporâneo de Gilberto Freyre, autor este que ficou famoso por ter escrito “Casa Grande e Senzala”, mas que foi profícuo na escrita sobre o açúcar e seus doces.

No seu livro A história da Alimentação no Brasil[3] ele vai além e dedica um capítulo à Sociologia da Alimentação: “Nenhuma outra atividade será tão permanente na história humana.” E é pura verdade. Podemos fazer o que for, nunca deixaremos de comer. Na abertura do capítulo ele fala do ditado popular “Papagaio não comeu? Morreu!”. Afirma ainda que a arte rupestre é “fórmula propiciatória para a captura de alimento”, pois tudo o que está ali retratado tratava disso. Comemos, comemos e comemos.

Falamos de comida, nos referimos à comida no nosso cotidiano, usamos comida como insulto ou como termos de duplo sentido. O tempo todo.

O músico dá uma “canja” quando vai tocar uma música no show de outro; a canja também era falada na escola, quando um time era muito fácil de vencer (“é canja, é canja, é canja de galinha...”); damos uma “banana” para quem quer tirar proveito de nós ou ainda “banana” quando uma pessoa é meio boba, devagar ou aquele que cai “igual banana”; quando as coisas são fáceis, elas são “mamão com açúcar”; quando a pessoa é meio inexperiente ela é “café-com-leite”; as crianças brincavam (será que ainda brincam?) de “salada de frutas” (pera, uva, maçã, salada mista); quando a roupa está muito amarrotada, é um “maracujá-de-gaveta”; a mulher pode ser um “filé” (horrível isso!) e se temos uma marca de suor na camisa embaixo do braço, lá temos uma “pizza”; se formos falar de música, tinha que ter um blog só pra isso (Zeca Pagodinho é quem diz que nunca comeu “caviar” e que é mais “ovo frito e farofa com bacon”) e de filmes, outro blog.

Comida também é sinônimo de superstições. Câmara Cascudo também tem um capítulo só pra isso. Em geral os doentes, as crianças e as grávidas/lactantes são os alvos da superstição. Mulheres que amamentam tem que tomar “canjica” para ter muito leite; muitas grávidas são impedidas de cozinhar para que não estraguem a comida; os doentes ganham canja (de novo!) quando estão em convalescença; crianças tem que comer feijão e fígado (não eu) para ter ferro. E a manga e o leite, para sempre separados pelas crendices.



Enfim, comida é cultura de todas as formas. Poderíamos escrever (como já foram escritos), tratados e mais tratados sobre o assunto. Eu hoje fugi um pouquinho da proposta inicial do blog (os livros de receitas), mas o tema é tão vasto que sempre teremos assuntos pertinentes.
Semana que vem eu estou de volta, falando sobre patrimônio imaterial.
Acompanhe no Facebook algumas receitas do livro do Câmara Cascudo que eu colocarei por lá.

Abraços!





[3] Cascudo, Luiz da Câmara. História da Alimentação no Brasil. 2011. Ed. Global